CONHECER PARA CONSTRUIR A SOCIEDADE DO BEM VIVER
Amigas e Amigos da Cáritas do Rio Grande do Norte
Agradecido pelo convite para estar com vocês no seminário que será realizado em Caicó, escrevo com a finalidade de animar a preparação de cada participante dele. Teremos como temática o que está no título dessa mensagem:conhecer para construir a sociedade do Bem Viver.
Começaremos nosso mini-curso dialogando sobre as práticas de Bem Viver que conhecemos. É sabido que se trata de uma proposta que nasce das práticas de vida dos povos indígenas andinos. Mas o povo Guarani e outros povos do nosso país também pautam sua vida nessa perspectiva. E com certeza, em comunidades tradicionais quilombolas, de pescadores, de camponeses, bem como em comunidades urbanas há práticas de Bem Viver, e nós precisamos dar-nos conta delas e valorizá-las em nossa opção de construir a sociedade do Bem Viver.
Como estamos percebendo, há muitas e diversificadas práticas de Bem Viver. Mesmo as dos povos indígenas têm características diferentes, a depender de sua cultura, religião, e a depender de sua história. Por isso, dialogaremos sobre essa questão: nosso objetivo é a construção de uma única sociedade do Bem Viver, ou podemos e devemos trabalhar pela construção de sociedades de Bem Viver?
O passo fundamental é a identificação dos pontos comuns estre as sociedades que desejam ter como fundamento o Bem Viver. Não há um modelo de sociedade do Bem Viver, mas os diferentes caminhos concretos que levam diferentes povos e comunidades a identificarem-se como sociedades de Bem Viverenriquecem a construção comum de uma sociedade maior, constituída por povos e comunidades autônomas, verdadeiras nações que entram em acordo de convivência. Com isso, as qualidades presentes nas diferentes sociedades de Bem Viver se tornam compromissos, valores e formas de vida reconhecidos por todas.
Os avanços constitucionais dos povos da Bolívia e do Equador servem como pistas nessa direção.
Os avanços constitucionais dos povos da Bolívia e do Equador servem como pistas nessa direção.
O essencial é dar-nos conta de duas características das sociedades de Bem Viver:
- empenho no sentido de que elas sejam sociedades em que as pessoas cooperam entre si, tento em cada sociedade como na sociedade maior, e pessoas que em todas as suas atividades, e de modo especial as da produção do necessário para a vida, relacionam com harmonia e cuidado com a Mãe Terra;
- firmeza na crítica consequente das sociedades de exploração das pessoas e de apropriação predadora da Terra, muito concretamente as sociedades comandadas pelo capitalismo financeiro, em que o interesse único é a concentração mundial da riqueza e do poder.
Como nos sugere o Papa Francisco, de modo especial na encíclica Laudado Si, sobre o Cuidado da Casa Comum, só entram no caminho da construção de sociedades de Bem Viver as pessoas que dão o passo daconversão ecológica, e isso exige uma espiritualidade que faça que o caminho da conversão seja interior e político, fazendo que o amor marque a forma pessoal de ser e seja fundamento estrutural das sociedades que desejamos construir.
Ivo Poletto, em Brasília, no dia 1º de outubro de 2017
Nota: sugiro que procurem e leiam o livro de Alberto Acosta, O Bem Viver – uma oportunidade para imaginar outros mundos, publicado pela Autonomia Literária e a Editora Elefante, em 2016, em São Paulo. [editoraelefante.com.br – editoraelefante@gmail.com]
